A LIÇÃO DO MILHO
"O essencial é invisível aos olhos, só é percebido pelo coração"
Antoine de Saint Exupéry
Observando a natureza, deparamos com elementos que são paradigmas a serem refletidas por nós.
Um dos exemplos é o do milho. Não sei se vocês sabem, mas num milharal crescem vários tipos de milho dependendo da mutação genética, assim temos basicamente três tipos: o milho padrão, o milho rei - que é maior e de coloração avermelhada e o milho mirrado, subdesenvolvido.
O primeiro é bonito grande, de coloração amarelada, onde todo o seu potencial se revela pelo exterior. É o milho que é comercializado pela Bolsa de Valores, sendo seu preço cotado mundialmente. É o milho de exportação, apreciado pelo mundo dos negócios, consumido pelas Indústrias.
È o milho que você compra nos supermercados e que também está envasado em latas sendo usado nas saladas e nas comidas que você prepara ou come.
Enfim é o milho admirado, que participa do curau, da pamonha, dos sorvetes. É o grande milho, exteriorizado e consumido por todos nós.
O segundo - o milho rei, faz-me lembrar da Festa do Milho em Portugal onde ao ser encontrado propicia por parte de quem o encontra receber beijos e abraços.
É o milho raro, que vai enfeitar as casas, as festas populares. É o milho da alegoria, da fantasia!
O terceiro, o milho mirrado, desprezado durante séculos, grãos pequenos, redondos e duros.
Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, estes milhos não podem competir com os milhos normais.
Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.
Havendo fracassado a experiência com água, tentou gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltaram da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformaram em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. Surgiram as pipocas!! O estouro das pipocas se transformou, então, de simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente das crianças. É muito divertido ver o estourar das pipocas!
E o que isso tem a ver com a nossa evolução, com o nosso amadurecimento?
É que para nos transformarmos, algo semelhante ao milho que se transforma em pipoca quando em contato com o fogo, precisa acontecer conosco.
O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer; pelo poder do fogo podemos repentinamente, nos transformar em outra coisa - voltar a ser crianças!! Crianças são símbolos da inocência, do amor puro sem motivos escusos, sem conveniências.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas.
Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos.
Dor: pode ser fogo de fora. Perder o amor, perder o filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Dor: Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão - sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios.
Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui.
E com isso a possibilidade da grande transformação.
O milho da pipoca precisa do fogo para se transformar em pipoca. E nós precisamos das vivências, que vem do suportar as frustações, que vem da aceitação dos nossos limites, da aceitação da nossa ambiguidade, que nos convida a viver o nosso lado forte e fraco, o nosso sucesso e fracasso a nossa alegria e tristeza a fim de sermos inteiros.
"O homem se descobre quando enfrenta o obstáculo."
"É preciso suportar as larvas para assistir a eclosão das borboletas". Fala-nos Antoine de Saint-Exupéry. Parece que estas frases convergem com o que acontece com a pipoca.
É um milho que não aparece, que não dá IBOPE, que não passa nos concursos, mas que tem potencial a ser conquistado, a ser revelado.
E com o milho normal, tudo nele está revelado, vive na superfície, não tem conteúdo, não tem o que revelar. É o ser medíocre, superficial, que não tem o que evoluir, mas que atende bem as expectativas dos outros, a lei do consumismo, a preocupação com as marcas etc, etc, etc.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! E ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Mas existe aqueles que resistem a mudança: são os piruás. Piruá é o milho da pipoca que se recusa a estourar.
Piruás são aquelas pessoas que por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito de elas serem. A sua presunção e seu mêdo são a dura casca do milho que não estoura. E por que não estoura? Porque não tem a coragem, o esforço para lutar. E assim o destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém e se isolam. Que pena!
Terminando o estouro alegre da pipoca. No fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultas que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...
O que queremos ser? Piruá ou Pipoca?
A escolha é sua! Diz o filósofo Jean Paul Sartre: "A responsabilidade do homem é imensa, porque ele pode se tornar aquilo que decidir ser".
Eu o convido a lutar a ser pipoca para a sua realização e para a nossa alegria que é a alegria de todos que convivem e que torcem por você!
Adaptado pelo Psicólogo Dr. Arlindo Salgueiro, extraído do Livro:
"O Amor que acende a Lua" de Ruben Alves.
P.S.: Esta lição do Milho completa-se com a Lição da Borboleta.